Carnaval palco da vida
É o dia de glória. Sem trocadilhos chegamos a estação da Glória. Entra um negro magro, alto e imponente. Como se dizia antigamente “um príncipe etíope”. De bermudas, camiseta promocional e tênis surrado. Carregando nas mãos um grande saco plástico que cuidava com muito desvelo. Sentou-se em um banco lateral Ao lado da simpática senhorinha de boné festivo. Ela o recebeu com o sorriso aberto afastando-se para dar espaço. O belo negro correspondeu ao gesto e aceitou a gentileza. Não perdeu tempo e, abrindo a sacola, retirou uma bota dourada de cano alto, nº46 com certeza. Calçou um pé, examinou o efeito causado aos demais, olhou em volta com ar orgulhoso e sorriu para si. A senhorinha do boné festivo, também, não perdeu a oportunidade e perguntou: - Vai desfilar? Era a senha para começar uma conversa muito interessante. O homem passou a explicar a sua fantasia e o enredo de sua Escola. Animado, com a audiência conseguida retirou também, a fantasia. Calção bufante de lamê azul, malha branca colante, jaqueta azul e branca rebordada em pedras e fios dourados. Tirou também um chapéu com plumas azuis e brancas. Explicou, conforme aprendera, o significado de sua fantasia dentro do enredo da Escola de Samba consagrada e justificou o título complicado do Samba enredo “ Sob o céu azul do meu pais , a Corte enamorada vem cantar”. Fiquei pensando: O que queriam dizer com isso? Seria este o “Samba do crioulo doido”? Que Corte estava enamorada? Sobre isso o que sabemos não é nada disso. Bem, voltemos ao vagão do Metrô. A jovem “louruda” continuava seu show, olhando com ar de desdém para aquele “negão” entusiasmado que tirara a atenção do seu público. Ela insistia em aparecer e empinou-se, espichou-se mais ainda no intuído de sentir as reações e os olhares. O moleque continuava assoviando e cantando , agora um “ rap” com aconselhamentos do Gabriel Pensador, sobre a “Maresia”. O senhor, “dono” do molecote inquieto, continuava a dormitar. Olhava de vez enquanto e dava muxoxos incomodados. O casal trocava olhares raivosos. Ele olhava de soslaio o bumbum da “loura” . Ela, por sua vez, com os braços cruzados, bufava e espumava enquanto observava a cena. A garota se esforçava e teimava em ficar de pé se roçando nos balaustres. O Metro, vomitava mais gente enquanto engolia outras à sua passagem, de estação em estação. Logo o trem seguirá quase vazio em busca de novas personagens com suas histórias pessoais. Seguimos até ao Sambódromo na Praça Onze, Marques de Sapucai e nos perdemos na saudável confusão da concentração das Escolas de Samba, perfumados com a fumaça dos c churrasquinhos e dos fogos. Nada chama a atenção. Ninguém se importa com as figuras bizarras circulantes. Hoje é carnaval e, apenas eu em minha teimosia, tento ler pessoas naquele instante. É como se todos estivessem guardados em um Museu de Cera durante o ano inteiro. Como diz um amigo meu. " Essas figuras só saem na rua no carnaval”. As caras, verdadeiras máscaras, os dramas e comédias, os traseiros que são, segundo ele, “as bundas de carnaval” enormes mal feitas e engraçadas. pois o Carnaval ‘e o palco da vida de sábado até quarta-feira de cinzas.
Marlene Olympio
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