A Mulher Lilás

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Os ladrões de Jardins

Um dia amanhece e eu ouço um ruído infernal de serras, enxadas e picaretas. Lá em baixo de minha janela, a menos de dois metros, do térreo estão eles, ocupados em destruir um jardim, em matar flores e árvores onde se aninhavam os pardais. Com esse covarde crime, os ladrões lá estavam sorridentes, com os olhos brilhando pela ganância desenfreada. Nos planos dos criminosos estava, construir ali uma garagem que lhes rendesse lucros, para que administrando o Condomínio, pudessem roubar mais e mais aumentando seus lucros, alugando vagas em fila indiana a menos de dois metros das moradias. Uma atitude vergonhosa, nojenta mesmo. A "comissão", depois de arrancar as plantas, flores e árvores, cobriu a área de cimento pintado de verde e denominaram de "área verde do Condomínio". Quanta boçalidade! Os moradores, patéticos e amedrontados com a quadrilha, não se expunham, continuavam se escondendo, cabisbaixos e calados. Evitavam encarar-me. Covardia, pura covardia.
Aquele jardim, agora é um monte de lixo. Expulsos, os pardais, os bem-te-vis, os beija-flores, as borboletas e as flores que alimentavam a cadeia da vida e perfumavam o espaço sob as janelas. A natureza violentada afastado o canto dos pássaros que incomodavam às suas consciências com os seus gritos de: “bem-te-vi”! - Viu o que, minha pequena ave? Os pombos também sumiram - e eles não ouviram mais: "corruptos... corruptos... corruptos".O gordo síndico desfilava sorridente, rodeado de mal intencionados puxa-sacos, que antes de assumirem cargos no condomínio, faziam escândalo até se uma criança pegasse uma flor. Agora, acabavam com o jardim, por ganância e corrupção. Reclamei no livro de ocorrência com o poema de Paulo Tapajós "Tempo de Quintais", o poeta citou o mesmo crime, a destruição dos jardins por ganância. Foi o bastante para que se levantassem contra mim, todas as calúnias, todas as injúrias e difamações. Eu também sou poeta e não fiquei indiferente ao roubo do jardim. Para disfarçar o seu horrendo crime, e suas torpes intenções de acabar com um jardim para fazer uma garagem, anunciaram aos desavisados que criariam ali, um "parquinho" para as “pobres criancinhas” do prédio. Falavam em violência e expunham as crianças às balas perdidas disparadas do outro lado do muro onde existe um "parquinho" e um campo de futebol, não ocupado pelos cidadãos, por covardia, por medo dos outros bandidos.O espaço para futebol no condomínio foi criado quase que exclusivamente para atender aos filhos do porteiro, dois adolescentes mal educados e muito feios que vieram acrescentar ao Rio de Janeiro, algo de muito ruim que já está instalado aqui para nosso desespero. No quarto, um idoso quase agoniza e, embora eu pedisse aos criminosos que parassem as obras até que ele melhorasse os argumentos não foram suficientes. Tinha que manter as janelas fechadas durante as obras por causa da poeira e do barulho e depois, as janelas continuariam fechadas devido a gritaria, o jogo de bola e as batidas propositais contra as paredes o que incomodavam sobremaneira o idoso doente. A bem da verdade, os bem-nascidos do prédio nunca desceram para incomodar aos outros moradores, até por uma questão de status eles não se misturavam. Ali em baixo da janela, substituindo a beleza de um jardim, o cantar dos pássaros e perambular das borboletas e beija- flores substituído pela presença escória humana que desde cedo aprende, com seus pais, que nada mais existe ao redor de seus umbigos. São esses seres humanos (?) que infelizmente, estarão no comando futuramente. Serão os corruptos que poderão ser os Síndicos de nosso país. Pobre condomínio chamado Brasil.Durante essa vivência em um condomínio lutei muito por aquele jardim, não me arrependi nem um segundo por ter reagido àquela violência. Lembrei-me da poesia de Eduardo Alves da Costa com o nome de: No caminho de Maiakovski onde ele retrata as angústias daquele poeta russo que matou-se porque perdeu todas as esperanças - “... Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor de nosso jardim. Não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem pisam as flores matam nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta e já não podemos dizer nada...”.

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